terça-feira, 1 de março de 2011

Afinal, a tecnologia é azul ou rosa?

Ao me pedirem para escrever esse texto me deparei com uma espécie de desafio, afinal de contas nunca tinha escrito nada relacionado à tecnologia, não por falta de interesse, mas escrevo mais sobre música e cultura. Pedi opiniões, pesquisei temas e tive algumas discussões (pelo MSN!).

Fiz pesquisas relacionadas à mulher e tecnologia, encontrei vários artigos interessantes sobre o tema, com gráficos, estatísticas e diversas opiniões, mas o que me chamou mesmo a atenção foi uma discussão via MSN em que um contato (que, provavelmente irá brigar comigo ao ler este texto) afirma que “o mercado sentiu a necessidade de incluir a mulher na tecnologia, até porque as mulheres são mais consumistas, se uma mulher estiver em dúvida se compra um celular ou não… a dúvida é facilmente resolvida se ela bate de frente com um celular rosinha (…)”. Ok acalmem-se, não precisamos nos rebelar e nem matar o cara, mas convenhamos, ele faz parte da maioria da população que acredita que mulher e tecnologia não combinam. Também é bem comum aliar tecnologia ao consumismo feminino, consumismo existe, ok, mas mulheres não compram tecnologia apenas por consumismo, mas sim consomem pela funcionalidade.

Esse dito desinteresse das mulheres no campo tecnológico faz sentido, é uma questão cultural, durante anos as mulheres ficavam cuidando dos filhos e da casa enquanto os homens iam para o campo científico. E por causa dessa desigualdade cultural, as mulheres, tiveram (e tem) que aprender tudo muito rapidamente, o que as torna mais ágeis e mais perspicazes. Desde que ampliaram seu papel na sociedade é possível encontrá-las nas mais variadas áreas de atuação tecnológica, e, (pasmem!) ocupando altos cargos gerenciais, como por exemplo, a administradora de Sistemas Unix do Google em Zurich, Fernanda Weiden, dentre outras.

É claro que essa inclusão da mulher no mercado de trabalho e, consequentemente, no mercado consumidor, causou uma reviravolta na produção das empresas. Quem anteriormente não tinha voz ativa começou a exigir, o mercado teve que se adaptar para que pudesse facilitar cada vez mais a vida das mulheres que cumprem jornadas triplas (casa, filhos e trabalho). E se engana quem pensa que a adaptação do mercado às novas consumidoras se deu somente colocando um celular rosinha e umas florzinhas para incrementar. Elas foram além, entraram na produção, nas pesquisas e buscaram mais praticidade aos produtos.

Para comprovar que a relação das mulheres com a tecnologia vai além da parte estética e do consumismo, já é comprovado cientificamente que, em muitas áreas envolvendo internet e TI, as mulheres se destacam pela visão holística e pela capacidade de pensar novos usos para diversas tecnologias, colocando o foco no usuário final, questão-chave para o sucesso de um projeto. Trazer a tecnologia para o cotidiano é uma das características femininas, ao idealizar um projeto é preciso humanizá-lo, para que ele seja realmente útil diariamente, o que inclui a mudança estética do produto.

Não contentes em estar presentes no processo de fabricação dos produtos elas começaram a se aventurar na produção de conteúdo na web. E na era da web 2.0 as mulheres começaram a produzir material próprio para mulheres, e o conteúdo online (blogs, sites, revistas, redes sociais, chats, fóruns de discussão, etc) voltado ao universo feminino não pára de aumentar.

A geração de conteúdo por usuários, já é uma realidade na internet, e uma recente pesquisa (publicada em 2009) realizada pelo Pew Internet & American Life Project, mostrou que, nos Estados Unidos, as mulheres já produzem mais material online que os homens: entre os jovens de 12 e 17 anos, 35% das meninas são autoras de blogs contra 20% dos meninos. Outra pesquisa, realizada pela eMarketer, revelou que nos Estados Unidos a maioria dos internautas é constituída por mulheres, totalizando 51,7%. No Brasil, de acordo com o Ibope de 2009, a presença das brasileiras na web chegou à marca de 48,9% este ano, número bastante significativo.

Sem querer ser feminista, sem fazer um discurso feminista, sem ser feminista, mas é fato comprovado por pesquisas que a capacidade feminina de pensar em múltiplas perspectivas e de realizar muitas tarefas ao mesmo tempo pode ser um dos motivos que possibilitam a maior aptidão para gerar conteúdo, já que na web é preciso ser rápido e pensar de maneira multimídia. Essa superioridade feminina na produção de material para a internet talvez se justifique pelas características ditas tipicamente femininas – subjetividade, empatia, cooperação e sensibilidade – que, se em outros tempos, eram consideradas uma desvantagem, hoje representam um dos seus mais poderosos diferenciais.

Portanto as mulheres estão ocupando seu espaço, fazendo acontecer, se fazendo notar, usando notebooks e celulares rosas sem perder a funcionalidade e o conteúdo. Que as diferenças existem já sabemos, mas é preciso saber conviver com elas, lembrando que a competência deve sempre estar acima de gêneros.

E só para constar, prefiro a cor verde. ;-)

texto publicado no Guerrilha Geek: http://www.guerrilhageek.com.br/gg/

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